Ecossistema de inovação não é novidade, mas em 2011 certamente recebeu muitos novos recursos. Jorn Bang Andersen olha para a evolução do ecossistema de inovação, para onde está voltado agora e como as empresas podem desenvolver estratégias de ecossistema.

Desde que James Moore introduziu o termo ecossistema de negócios em 1993, o termo “ecossistema de inovação” ganhou corrência dentro de sedes de empresas, consultorias de gestão, artigos governamentais de desenvolvimento econômico e trabalhos acadêmicos sobre inovação e competição global. Novos conceitos e palavras como “ecossistema de inovação” muitas vezes denotam a partida da realidade antiga para uma nova e uma mudança fundamental no pensamento dominante do paradigma atual para um novo. O ecossistema levanta (pelo menos) duas questões importantes.

Como devemos entender ecossistemas de inovação no contexto evolutivo da economia e inovação global?

Como devemos operar e interagir estrategicamente com ecossistemas de inovação da perspectiva da empresa?

Ecossistemas de Inovação em um Contexto Evolutivo

Embora prestemos pouca atenção, há um caminho evolutivo para os sistemas e as transições econômicos. Atualmente, estamos acostumados a ver os Estados Unidos na posição global dominante influenciando tecnologia, sistemas corporativos e cultura, mas é evidente que não foi sempre assim.

Atualmente, estamos acostumados a ver os Estados Unidos na posição global dominante influenciando tecnologia, sistemas corporativos e cultura, mas é evidente que não foi sempre assim.

Por volta de 1850, o economista alemão George Friedrich List argumentou que a Alemanha precisava de um “sistema nacional” para o desenvolvimento econômico, a fim de recuperar o atraso com relação à Grã-Bretanha. Sem entrar em detalhes, uma das principais contribuições de Friedrich List foi construir uma base de fabricação nacional e proteger “indústrias nascentes estratégicas” da concorrência estrangeira até terem atingido um nível maduro e serem capazes de competir com sucesso internacionalmente. Sua influência entre os países em desenvolvimento tem sido considerável. O Japão seguiu o seu modelo. Também foi argumentado que as políticas pós-Mao de Deng Xiaoping foram inspiradas por List.

Em 1899, o economista inglês Alfred Marshall cunhou o termo “aglomeração” e as vantagens para as empresas estarem localizadas na proximidade de outras empresas do mesmo setor. Os argumentos de Marshall para a aglomeração foram baseados em inúmeras pequenas empresas e serviços relacionados localizados em torno da produção de talheres em Sheffield, no norte da Inglaterra.

Em 1950, o economista sueco Eric Dahmén lançou o termo “blocos de desenvolvimento” como uma receita para o desenvolvimento econômico e a transformação industrial da Suécia. A tese de Dahmén foi muito inspirada por Joseph A. Schumpeter e noções como o papel de empreendedores, capital, destruição criativa e, por outro lado, com foco em determinadas indústrias de desenvolvimento.

No final da década de 1980, Christopher Freeman e Bengt Åke Lundvall introduziram o conceito de “sistema nacional de inovação”. Este conceito abraçou não só os atores principais de empresários, empresas e capital, mas também a regulamentação nacional dos mercados de trabalho, mercados de fatores, educação e outras políticas no quadro estrutural para o desenvolvimento econômico. Entre os estudos de caso para os sistemas nacionais de inovação estão o Japão e os países nórdicos.

Em 1990, a publicação de Michael Porter “A Vantagem Competitiva das Nações” introduziu o conceito de “clusters” como um veículo para o desenvolvimento econômico de indústrias, regiões e nações. O conceito de cluster de Michael Porter continha muitos dos mesmos elementos dos conceitos de desenvolvimento econômico anteriores mencionados acima, no entanto, alcançou mais reconhecimento e seguidores no mundo do que qualquer outro. Hoje, mais de 100 regiões e/ou países experimentaram ou implementaram algum tipo de política de cluster baseado no quadro estrutural de Porter.

Em 2010, a Universidade de Stanford lançou a rede internacional de ecossistemas de inovação em cooperação com parceiros selecionados na Finlândia, China e Japão. Ao mesmo tempo, ecossistemas de inovação denotam plataformas de Tecnologia da Informação e Comunicação como iPhone, da Apple, Android, do Google, plataformas de computação em nuvem e software dominadas por empresas como Microsoft, Amazon etc.

Rumo ao Entendimento de Ecossistemas de Inovação

Então, o que é um ecossistema de inovação em 2011? Quando falamos hoje sobre ecossistemas de inovação, 90% do conceito é uma combinação dos exemplos e conceitos históricos anteriores acima mencionados.

Notavelmente, os ecossistemas de inovação são baseados em exemplos bem sucedidos de aglomeração seja em termos geográficos, econômicos, industriais ou empresariais. Nas palavras de Schumpeter, os ecossistemas de inovação são principalmente sobre as regiões inovadoras bem sucedidas (Silicon Valley, Bangalore), plataformas de TIC bem sucedidas (iPhone, Android) ou novas indústrias (computação em nuvem) e empreendedores e investidores de todo o mundo saltam no movimento desses sucessos. Como tal, há relativamente pouca novidade sobre ecossistemas de inovação em comparação com os conceitos anteriores, como blocos de desenvolvimento ou clusters.

No entanto, os 10% restantes que parecem ser novidade dos ecossistemas de inovação de hoje a partir de equivalentes anteriores não devem ser subestimados.

As principais novidades para os ecossistemas de inovação atuais em comparação com épocas anteriores podem ser encontradas na dimensão de plataforma de sistemas Internet/mobile/TIC e web 2.0. Isto porque, hoje qualquer empreendedor com uma boa ideia pode, independentemente da localização geográfica, lançar um aplicativo de negócios para as plataformas iPhone da Apple ou Android do Google e se tornar um negócio bem sucedido. Este não era o caso, por exemplo, no tempo de talheres em Sheffield de Alfred Marshall. Para se beneficiar da aglomeração ou ecossistema naquele tempo alguém tinha que estar fisicamente presente naquele lugar e tempo.

Apesar de ecossistemas de inovação ainda serem baseados em algum tipo de concentração geográfica de empreendedores, investidores, talentos, universidades, a Internet parece finalmente estar tão madura que esses 10% podem muito bem ser o mais estratégico.

Apesar de, em 2011, a maioria dos ecossistemas de inovação ainda serem baseados em algum tipo de concentração geográfica de empreendedores, investidores, talentos, universidades, a Internet parece finalmente estar tão madura que esses 10% podem muito bem ser o mais estrategicamente importante para qualquer empresa, região ou nação nos próximos anos. Acrescente-se a isso que a revolução das TIC fez a antiga distinção entre bens físicos e serviços mais ou menos obsoleta ou, na melhor das hipóteses, turva. Então, como as empresas devem navegar e posicionar-se vantajosamente no cenário global dos ecossistemas de inovação do século 21?

Estratégia Inicial para Posicionamento dentro de Ecossistemas de Inovação

Uma forma das empresas (regiões e nações) abordarem quais dos ecossistemas de inovação globais devem trabalhar em rede e considerar importante poderia ser fazendo uma avaliação crítica inicial das dimensões estratégicas essenciais para realizar parcerias ou entrar em ecossistemas de inovação. Algumas dessas dimensões estratégicas para consideração são destacadas a seguir.

Liderança e papel de parceiro

  • Como o ecossistema é governado? É centralizado e fechado com um ou poucos atores principais dominantes, como por exemplo Apple, Google, Microsoft, ou é um ecossistema mais descentralizado e aberto com a liderança dispersa como por exemplo Linux? Controlar os ecossistemas é uma nova fonte de vantagem competitiva e sua própria empresa precisa analisar cuidadosamente como você participa e quais os níveis de controle ou redução de riscos estão disponíveis.

Riscos de aprisionamento de tecnologia

  • Entrar em apenas um ecossistema ou plataforma pode ser similar ao risco de “apostar apenas em um número na roleta”. Isso é geralmente uma estratégia muito arriscada e poderia ser melhor usar projetos de negócios menores para atingir diferentes ecossistemas e testar seus benefícios desta forma.

Riscos do lado da oferta

  • Pode haver ganhos superiores de gestão e de custo de transação derivados de lidar com apenas um ou alguns ecossistemas. No entanto, essa dependência pode ser fatal como as empresas japonesas aprenderam quando foram temporariamente negadas do acesso à terra rara da China, maior produtor e ecossistema para terras raras do mundo. Ou como quando o terremoto no Japão resultou na suspensão de 25% da produção mundial de silício, o que poderia ter tido amplas implicações para a indústria global de eletrônicos.

Reputação da marca

  • A terceirização de, por exemplo, produção de alimentos e bens de consumo para “ecossistemas de produção” em mercados emergentes deve ser considerado mais um exemplo de risco tendo em vista a qualidade e responsabilidade social dentro de toda a cadeia de fornecimento do ecossistema. Os escândalos com leite contaminado da Sanlu e Chongqing na China ou o caso de trabalho infantil da Nike são exemplos que mostram como as comunidades online como Facebook e Youtube pode danificar rápida e facilmente as marcas e reputações até mesmo das empresas líderes globais. Reputação é sem dúvida uma das dimensões mais subestimadas quando as empresas analisam com qual ecossistema se envolver.

Prós e contras de ecossistemas prioritários ou secundários

  • Quais seriam as vantagens de ir para parceiros não-óbvios fora da corrente principal do que é a norma na indústria? Por exemplo, a maioria das empresas de TIC consideram Vale do Silício ou Bangalore, mas poucas consideram entrar em Tomsk ou Novosibirsk, na Sibéria russa. No entanto, ambas as cidades russas têm alto nível de talento e instituições de ensino em matemática, física e programação, e a preços mais baixos do que, por exemplo, Bangalore. Deutsche Bank fez tal mudança de Bangalore a Tomsk alguns anos atrás. E Cingapura e Japão estabeleceram acordo de cooperação formal com Tomsk. Em mercados em rápida mudança, secundários podem rapidamente se tornar prioritário e a empresa individual tem uma posição de barganha mais forte frente aos parceiros em um ecossistema secundário do que prioritário.

Em conclusão, para entender os ecossistemas de inovação de hoje, pode ser útil vê-los como aglomerações de atividade industrial de sucesso que compartilham muitas das semelhanças de tais configurações econômicas anteriores. Além disso, o fascínio de uma parceria com os ecossistemas mais bem sucedidos e óbvios deve ser considerado cuidadosamente com, pelo menos, alguns testes robustos de opções, tais como diversificação em um número maior de ecossistemas e assim evitar armadilhas e riscos destacados sob dimensões estratégicas neste artigo.

Por: Jørn Bang Andersen | Tradução por: Filipe Costa

 

Sobre o Autor


Jørn Bang Andersen é atualmente assessor sênior do Nordic Innovation Centre em inovação e globalização. Antes disso, trabalhou como assessor especial do Ministério do Comércio e da Indústria em inovação e desenvolvimento tecnológico, vice-diretor do Ministério dos Assuntos Estrangeiros da Dinamarca e como gerente de marketing e desenvolvimento de negócios e assessor especial da Câmara de Comércio de Dinamarca sobre estratégia global de inovação.

Internacionalmente Andersen trabalhou para a Comissão Europeia sobre negócios internacionais, comércio e cooperação tecnológica, responsável por China, Índia, Vietnã. Andersen serviu como conselheiro sênior do governo da Dinamarca para Estônia e Letônia em sua transição para economias de mercado e associações à UE. Engajado no Ministério da Economia, na Estónia, Tallinn.

Compromissos do setor privado tem sido, designadamente, como fundador do Hansa Consulting House e Gestor de Norte e Leste Europeu para Interlace. Andersen recebeu mestrado em ciência política pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e um mestrado em Política da Europa Ocidental e Economia Internacional pela Universidade de Essex, como parte de uma bolsa Erasmus. Jørn B. Andersen publicou livros e artigos sobre inovação e faz palestras sobre o tema, na Dinamarca e internacionalmente.