As origens do ‘crowdsourcing’ vêm muito no mundo dos negócios. O termo é amplamente aceito como tendo sido cunhado pela revista Wired em 2006, em artigo analisando como as empresas estavam começando a terceirizar tarefas, normalmente entregues por um indivíduo a um maior número de pessoas, na expectativa de que obteria resultados mais rápidos por um preço menor. Desde então, o uso de técnicas de crowdsourcing em negócios está mais estabelecido. Crowdfunding, por exemplo, tornou-se uma maneira comum de levantar fundos, enquanto os clientes Spigit Engage fornecem um grande exemplo de como as empresas estão aplicando crowdsourcing para o processo de inovação.

No entanto, tal é o potencial e o poder da ‘multidão’, até onde crowdsourcing poderá ser levado – e não apenas nos negócios, mas na sociedade como um todo?

As organizações já estão estendendo os limites de crowdsourcing para maiores e mais diversos públicos. A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) recentemente publicou um desafio no Spigit Engage para encontrar novas formas de integrar melhor os refugiados em novas comunidades. Assim como pedindo soluções em toda a ONU, que também envolveu funcionários de agências parceiras, bem como os próprios refugiados.

McDonalds é o mais recente de uma série de marcas globais a jogar o desafio da inovação de produtos para os próprios clientes. A iniciativa “construtor de hambúrguer” (“burger builder”) permite aos fãs personalizar o burger ideal, selecionando até seis ingredientes de uma seleção de mais de 80, com o mais popular na disputa aparecendo em menus do Reino Unido nos próximos meses. Sem dúvida este será agora cunhado ‘McCrowd Saucing’.

Enquanto setores de varejo e alimentos têm feito experiências com crowdsourcing por algum tempo, devido em grande parte ao papel integral que o consumidor desempenha, outras indústrias estão começando a ver o valor também. A NASA, por exemplo, lançou recentemente um projeto de crowdsourcing para reunir ideias do público sobre como a sua tecnologia espacial poderia ser usada no mundo do consumidor. A NASA já reivindica muitas das invenções que hoje usamos no nosso dia-a-dia, como as câmeras de smartphones, no entanto, sente que com o poder da multidão pode encontrar mais valor para o consumidor em sua tecnologia.

Mas até quanto maior pode chegar crowdsourcing? Uma forma de instituição, que depende muito do apoio e boa vontade da multidão para sobreviver, é o governo. Ao invés de confiar a tarefa de criação de políticas para um grupo seleto, na esperança de as suas ideias vão ganhar votos suficientes para vencer a próxima eleição, por que não ir direto à fonte pública e consultar a multidão no próximo manifesto político do partido?

Claramente, aplicar esta abordagem levaria algum planejamento e poderia lançar uma série de desvantagens, mas há comentaristas políticos falando sobre o poder da multidão. Embora não tenha sugerido como um gerador de manifesto, Daniel Finkelstein de The Times recentemente identificou crowdsourcing como uma ameaça para a existência de políticos. Ele teoriza que o papel do político nasceu da humanidade se tornar muito grande em número para governar a si mesma. Como as comunidades já não podiam se reunir em um só lugar (p.ex. a praça da cidade) para tomar decisões, indivíduos foram eleitos para assumir esta responsabilidade em nome das massas. Finkelstein acredita que a internet, e com ela a capacidade de buscar fontes na multidão, ameaça inverter esta tendência, pois agora é mais fácil do que nunca reunir as pessoas e aproveitar as suas opiniões.

Embora a perspectiva de uma forma digital do socialismo seja improvável, artigo de Finkelstein ilustra o potencial positivo de aproveitar a sabedoria da multidão. Usando a tecnologia moderna, as pessoas (seja no seu papel de trabalhadores, consumidores ou cidadãos) podem ter suas vozes ouvidas mais alto e claro do que nunca. As empresas já despertaram para a importância disso, e sabem que ouvir os seus funcionários ou clientes é essencial para a sobrevivência. No entanto, o poder da multidão pode ser eficazmente canalizados para resolver as questões sociais também.

A sabedoria coletiva da força de trabalho está sendo aproveitada para melhorar a assistência ao paciente no NHS. Os líderes seniores podem definir desafios envolvendo milhares de funcionários para dar entrada em novas estratégias. Leva-se a um salto de 15% na satisfação de funcionários ao ativamente engajar trabalhadores. Isso é imensamente poderoso quando você pensa em quantas vidas de pessoas são tocadas pelo NHS.

Seja ajudando os refugiados a se estabelecer em novas comunidades, desenvolvendo avanços de saúde a partir de tecnologia espacial ou um governo tendo em conta as sugestões de seu eleitorado – crowdsourcing pode ajudar a tornar o mundo um lugar melhor. Conforme tecnologia e técnicas de gamification tornam-se ainda mais sofisticadas, o potencial de crowdsourcing é ilimitado.

Por: James Gardner | Tradução por: Filipe Costa

Sobre o Autor

 

Como praticante líder de pensamento e inovação, James Gardner levou equipes e programas de inovação em múltiplas indústrias, continentes e contextos culturais. Antes de ingressar na Mindjet, Gardner foi diretor de tecnologia da Spigit, tendo sido duas vezes cliente Spigit quando era diretor de tecnologia da maior organização do setor público do Reino Unido, e antes disso, quando foi Chefe de Inovação e Investimento no maior banco do Reino Unido. Em 2009, sua equipe foi premiada com o prestigiado UK Financial Services Innovation Award duas vezes por trabalhar com poder da multidão para inovação e, em 2010, foi nomeado o executivo de serviços financeiros mais ligado a mídia social na Grã-Bretanha.

Foto: Creativity Network por Shutterstock.com